06 de August de 2025

A Transfiguração do Senhor

Imagem ilustrativa da notícia: A Transfiguração do Senhor

A Transfiguração do Senhor é um dos episódios mais misteriosos e luminosos da vida pública de Jesus. Celebrada liturgicamente em 6 de agosto, esta manifestação gloriosa é registrada nos Evangelhos Sinópticos (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36) e faz parte dos mistérios luminosos do Santo Rosário, propostos por São João Paulo II.

Nela, Jesus revela Sua glória divina a três de Seus apóstolos — Pedro, Tiago e João — como uma antecipação da Ressurreição e uma confirmação de que a cruz não é o fim, mas o caminho para a glória.

O Evangelho da Transfiguração

O Evangelho segundo São Mateus (17,1-2) narra:

"Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; seu rosto brilhou como o sol e suas roupas tornaram-se brancas como a luz."

Essa descrição aponta para um momento de revelação extraordinária. A Transfiguração não é apenas uma visão simbólica, mas um evento real, testemunhado por homens confiáveis, destinado a fortalecer a fé dos apóstolos.

Significados Teológicos

1. Revelação da Divindade de Cristo

A Transfiguração é uma epifania, ou seja, uma manifestação da divindade de Cristo. A glória que estava velada por Sua humanidade se torna visível por um momento. Santo Tomás de Aquino afirma que Cristo mostrou sua glória para preparar os apóstolos para o escândalo da cruz, fortalecendo sua fé (cf. Suma Teológica, III, q. 45).

2. Confirmação da Lei e dos Profetas

A presença de Moisés e Elias no monte simboliza a Lei e os Profetas, ou seja, todo o Antigo Testamento. Moisés representa a Lei e Elias os Profetas. Ambos testemunham que Jesus é o cumprimento de todas as Escrituras.

3. Prefiguração da Glória da Ressurreição

A glória da Transfiguração antecipa a glória do Cristo ressuscitado. Por isso, é considerada uma preparação espiritual para os discípulos, que logo enfrentariam a Paixão de Cristo. Eles deviam aprender que a cruz leva à glória.

4. Teofania Trinitária

A Transfiguração também é uma manifestação da Santíssima Trindade:

  • O Pai se manifesta na voz que vem da nuvem: “Este é o meu Filho amado, escutai-o.”

  • O Filho é Jesus transfigurado.

  • O Espírito Santo é simbolizado na nuvem luminosa, que frequentemente representa a presença divina.


Dimensão Litúrgica

A Festa da Transfiguração é celebrada em 6 de agosto e possui grande importância litúrgica. O Papa Calisto III instituiu esta festa universal em 1457, após a vitória dos cristãos contra os turcos em Belgrado — um evento atribuído à intercessão divina.

Na liturgia, a Transfiguração é um anúncio pascal: mostra que a vida cristã exige cruz, mas culmina em glória. Por isso, ela está colocada estrategicamente no calendário: entre a Páscoa e a Paixão, e nos Evangelhos dominicais do Tempo Comum.

A Transfiguração e a Vida Cristã

A espiritualidade do “subir ao monte”

O “monte alto” representa o lugar da oração, da intimidade com Deus. Os santos Padres veem no monte uma imagem da ascese espiritual: subir exige esforço, sacrifício, mas leva à visão beatífica.

A escuta do Filho

A ordem do Pai é clara: “Escutai-O”. A Transfiguração é um convite à obediência a Cristo. A fé autêntica nasce da escuta da Palavra (cf. Rm 10,17), e os que O seguem devem conformar sua vida à Sua voz.


Interpretação dos Santos

  • Santo Agostinho: via neste episódio a união entre a antiga e a nova aliança.

  • São Leão Magno: dizia que a Transfiguração visava “remover do coração dos discípulos o escândalo da cruz”.

  • Santo Tomás de Aquino: destacou que a Transfiguração foi dada não a todos, mas àqueles que estariam mais próximos de Cristo na agonia.

A Transfiguração é um sinal claro de que a cruz não é a derrota, mas a vitória do amor divino. Ao mostrar sua glória, Jesus nos ensina que seguir o caminho da renúncia, da oração e da obediência conduz à plenitude da vida.

Que ao contemplar este mistério, também nós sejamos transformados “de glória em glória”, como diz São Paulo (cf. 2Cor 3,18), até participarmos da glória eterna no Céu.


Fontes de Referência

  1. Sagrada Escritura:

    • Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36; 2Pd 1,16-18.

  2. Catecismo da Igreja Católica:

    • §§ 554-556; 568.

  3. Santo Tomás de AquinoSuma Teológica, III, q. 45.

  4. São Leão MagnoSermão sobre a Transfiguração.

  5. Missal Romano – Liturgia do dia 6 de agosto.

  6. Dom Prosper GuérangerO Ano Litúrgico, vol. 11.

  7. Papa João Paulo IIRosarium Virginis Mariae, 2002.


Publicado em 06 de August de 2025 — Categoria: Solenidade
Autor: Adson Vicente