← Voltar
| Adson Vicente

Santo Ambrósio, o grande Bispo de Milão

Publicado em — Categoria: Santo do Dia

Santo Ambrósio, o grande Bispo de Milão

Entre os luminares da Igreja antiga, poucos brilham com a solidez doutrinal e a nobreza de espírito que caracterizam Santo Ambrósio de Milão. Pastor intrépido, defensor da verdade e mestre da ortodoxia, sua vida permanece como testemunho perene de uma fé vivida com firmeza, prudência e profunda caridade.

Origens e formação

Ambrósio nasceu por volta do ano 340, provavelmente em Augusta Treverorum (atual Trier, na Alemanha), no seio de uma família cristã de grande prestígio no Império Romano. Seu pai era prefeito da Gália, e sua mãe, mulher de virtude exemplar, educou os filhos na retidão e na disciplina.

Recebeu uma formação clássica refinada: estudou literatura, direito e retórica em Roma. Rapidamente destacou-se como administrador justo e ponderado, qualidades que o levaram a ocupar o cargo de governador da província da Ligúria-Emília, com sede em Milão.

Da administração civil ao episcopado

Em 374, após a morte do bispo ariano Auxêncio, a cidade de Milão mergulhou em tensões entre católicos e arianos. Ambrósio, ainda catecúmeno, foi enviado para manter a ordem na assembleia que escolheria o novo bispo. Conta-nos a tradição que, no meio da discussão, ouviu-se a voz de uma criança exclamando: “Ambrosius episcopus!” – “Ambrósio bispo!”.

O clamor popular tornou-se consenso. Surpreso, Ambrósio resistiu, consciente de sua falta de preparação teológica. Contudo, a vontade do povo e a aprovação da Igreja falaram mais alto. Em poucos dias recebeu o Batismo, as ordens sagradas e a consagração episcopal.

Assim começava o seu extraordinário serviço ao Senhor e à Igreja.

Pastor, teólogo e doutor da Igreja

Como bispo, Ambrósio dedicou-se à oração, ao estudo e à pregação com exemplar fidelidade. Tornou-se uma das colunas da defesa da fé católica contra as heresias, especialmente o arianismo, que negava a divindade de Cristo.

Entre suas inúmeras contribuições, destacam-se:

Defesa intransigente da verdadeira fé
Ambrósio não se intimidou nem diante do imperador. Quando o imperador Teodósio ordenou o massacre de Tessalônica, Ambrósio exigiu penitência pública antes de readmiti-lo à comunhão. Sua firmeza estabeleceu a distinção entre o poder temporal e a autoridade espiritual, marco decisivo na história da Cristandade.

Contribuição litúrgica e musical
A ele se atribui a introdução do canto antifonal no Ocidente, origem do chamado canto ambrosiano, ainda preservado na liturgia milanesa.

Obras teológicas e espirituais
Seus escritos abrangem catequeses, tratados morais e comentários bíblicos. Destacam-se De officiis ministrorum, sobre a conduta do clero, e De Spiritu Sancto, sólida defesa da divindade do Espírito Santo.

O encontro decisivo com Santo Agostinho

A figura de Ambrósio ganhou ainda mais grandeza por sua influência sobre Santo Agostinho, um dos maiores doutores da Igreja. Agostinho, então jovem intelectual inquieto e pertencente ao maniqueísmo, aproximou-se do bispo de Milão atraído pela profundidade e beleza de suas homilias.

Foi sob o pastoreio de Ambrósio que Agostinho reencontrou a fé da infância e, em 387, recebeu o Batismo das mãos do próprio bispo. A conversão de Agostinho é, até hoje, uma das maiores provas da fecundidade espiritual de Santo Ambrósio.

Morte e legado

Santo Ambrósio entregou sua alma a Deus no Sábado Santo de 397. Seu corpo repousa até hoje na Basílica que leva seu nome, em Milão. A Igreja o reconhece como Doutor da Igreja, e sua memória litúrgica é celebrada em 7 de dezembro.

Sua vida permanece como exemplo luminoso de fidelidade à verdade, coragem pastoral e amor ao Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Em tempos de confusão doutrinária, sua voz continua a ecoar, lembrando a todos que a fé católica não pode ser negociada, mas anunciada com caridade e defendida com firmeza.